O miniconto A Máquina de Leonardo Stockler, vencedor do Prêmio Bráulio Tavares de 2008, ressuscita um dos nossos pesadelos mais incisivos desde que a ciência se tornou a toda-poderosa no Ocidente: a máquina infernal.
A máquina infernal, em poucas linhas, seria todo e qualquer mostrengo de engrenagens dedicado a destruir tudo e impossível de ser impedido. Por exemplo, muitos vêem os nanorrobôs como máquinas infernais, pois acham que podem de algum jeito serem programados para destruir o mundo molécula por molécula e se reproduzirem ad eternum.
A máquina infernal perdeu espaço nas últimas décadas para outros pesadelos científicos tão assustadores quanto, ou mais, como a guerra biológica, mutantes genéticos, buracos-negro e etc. Mas Stockler revive esse pesadelo de aço em seu conto e quando digo revive é certamente a palavra certa. As palavras vão materializando esse monstro lentamente a ponto de no último parágrafo termos dele uma imagem pronta em nossa cabeça, percorrendo os canaviais, num quadro que não deve em nada á Hyronimus Bosch.
E ao lado da máquina infernal está seu inventor que, louco, se suicida de uma maneira suficientemente dramática. Vejam só, também está lá o arquétipo do cientista louco, mas se bem que é um cientista louco com complexo de culpa.
Interessante situar esse quadro apocalíptico em um canavial, pois isto lhe concede uma aura mais barroca. Eu diria até que se esse conto fosse uma canção certamente seria uma do Zé Ramalho. Não sei até que ponto pesou a experiência do autor nisso (se ele vem do Nordeste? E até mesmo se ele gosta de Zé Ramalho?), pois muito pouco sei dele, aliás, quase nada.
Um ponto que gostaria de ressaltar, entre tanto, é a capacidade descritiva do autor. De nada adiantaria o cenário, o monstro e o seu criador se não fosse a pena do autor, por sinal pontualíssima. Bráulio Tavares, em entrevistas, sempre disse que faltava á ficção científica, principalmente aqui no Brasil, mais pessoas que fossem dominadas pelo "demônio da palavra", bem Stockler foi um desses "possuídos", honrando o título do prêmio.
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