Acordo com aquele gosto de óleo na boca.
Tem dias que nem sinto, de tão acostumado que estou.
Mas hoje senti.
Olho pela janela e vejo os quarentões e as chaminés vomitando fumaça nos céus.
Geralmente nem ligo pra isso.
Mas hoje liguei.
Me debruço um pouco sobre a janela e vejo lá embaixo, as pessoas andando na rua,
como se fossem formiguinhas, formiguinhas usando celulares tentando desviar dos mendigos e buracos da calçada.
Nunca percebi tal coisa.
Mas hoje precebi.
Vou escovar os dentes e vejo minha cara no espelho (oh, que fantástico!afinal o que mais eu poderia ver lá?), mas além do sarcasmo de momento, acontece outra coisa.
Vejo uma cara cinza, escorrendo graxa da boca, um nariz sujo de carvão que parece não ter mais utilidade. Tenho a impressão de que dentro de mim não há nada além de engrenagens.
Nunca me vi dessa forma, mas hoje vi.
Não sei porquê. Mas encontrei uma pista nos meus olhos fundos: um sopro inexplicável de vida escorreu de minhas retinas pelo meu rosto, limpando um pouco do carvão por onde passou.
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