Eu nunca tinha ouvido falar em flanêur, mas me pareceu que sempre soube o que era isso. Em todas as cidades em que morei, mesmo sendo um pouco sedentário, sempre gostava de andar pela cidade, simplesmente para vê-la.
Ainda não tive o prazer de fazer o mesmo em Manaus por conta da correria da mudança. Mas essa quarta, por causa de um enxame médico no centro da cidade, resolvi dar uma de flanêur. Bem, desci do ônibus na Leonardo Malcher, bem no começo da Joaquim Nabuco. Segui a Nabuco e percebi como era curioso a quantidade de floriculturas em uma de suas quadras. Quando olhei para o outro lado entendi o motivo: Casa Funerária.
Continuei, deveria entrar na 10 de julho e subi-la. Na sua esquina encontra-se de um lado a sede da Uninorte, toda em tons claros, azul e branco. Bem, na verdade tinha um pontinho meio deslocado ali: um mendigo deitado perto dos portões do estacionamento. Do outro lado da esquina está o enorme hospital da Sociedade Beneficente Portuguesa, cercado por um pequeno muro mais velho que o tempo. Descendo a 10 de julho chegamos a Getúlio Vargas, uma das avenidas principais do centro, toda arborizada e sempre cheia de carros. O nosso ponto fica logo lá embaixo, na intersecção com a 7 de setembro, a avenida principal das avenidas principais. Mas o consultório ficava mais acima. No caminho encontramos uma galeria de arte muito colorida e um cinema pornô bem discreto. O vigia era um velho que parecia estar eternamente pigarreando. Continuando nos deparamos com os fundos do famoso Teatro Amazonas e o Largo do Sebastião. Acho mais bonito até que o Teatro o chafariz na praça, cercado de monstruosas árvores. Na verdade ele não expele água como os outros, apenas possue uma pequena bacia ao seu redor cheia de água. O verdadeiro diferencial são suas esculturas, quatro naus, na verdade só suas proas, representando os continentes (África, América, Ásia e Europa). Tudo bem, esqueceram a Oceania, mas se a tivessem colocado onde ficaria a quinta nau?
O chafariz estava sendo visitado por um grupo de turistas. Todos tiraram suas fotos ali, com a exceção de duas garotas, bem vestidas aliás, que estavam preparando ainda o equipamento fotográfico. Eu pensei que estavam fazendo um ensaio fotográfico ali por causa da quantidade de câmeras e tripés. Até montarem tudo o grupo já tinha subido para o Teatro. Uma tirou a foto da outra encostada na borda do chafariz. Depois correram para alcançar o grupo. Eu pudi observar tudo porque parei para lanchar num dos banquinhos dali. Depois de acabar com o refrigerante e os salgadinhos me mandei. Cheguei ao consultório médico, ficava dentro de um prédio comercial, no quarto andar. Um lugar bem abafado, mas relativamente confortável. O exame demorou um pouquinho já que pude assistir duas novelas enquanto esperava, Pérola Negra e Esmeralda. Só faltou passar Canavial de Emoções. Bem, fiz o exame, sai do prédio e fui pegar o onibus, mas lentamente, como se quisesse aproveitar mais um tempinho no centro da cidade. Estava bem agradável lá, o tempo estava nublado e o clima ficara mais habitável.
Quando cheguei no ponto lá estava uma multidão de pessoas. Eu fiquei entre o senhor que parecia o Henry Fonda um pouco bronzeado e uma senhora com uma camisa azul que toda hora perguntava que horas eram. Depois de passarem mais de oitocentos ônibus por nós, finalmente chegou o nosso. E o onibus, que veio vazio, saiu de lá cheio. Estava um mormaço desgraçado dentro dele, que aumentava quando parava em algum sinal. Eu e todos ali estávamos contando os minutos, rezando para chegar o mais rápido que puder no nosso ponto.
Finalmente eu cheguei ao meu. Pensando bem, acho que o que me motivou a apreciar o centro da cidade foi o clima agradável de lá. Porque se tivesse o mormaço de sempre eu teria corrido o mais rápido possível para pegar o onibus e sair dali. Bem, o verão vem chegando e meus dias de flanêur com certeza estão contados, a menos que eu comprei um mini-ventilador portátil e um cantil com capacidade para 4 litros.
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